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“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Aqui da minha janela o sol se põe nas folhas da bananeira. Lá, mais longe, vê-se alguns prédios, que ganham até uma cor quente, ainda que outono.

O som é qualquer um que música nenhuma poderia chegar tão perto. Um cachorro, uma senhora, uma criança, umas folhas, um pássaro, umas panelas, umas roupas no varal e minha porta que dobra e parece uma sanfona.

O mundo inteiro dentro do meu quarto, uma festa! E pula, e come e canta! Os livros filmando cenas imprevistas, as músicas fazendo piruetas na cozinha!

O silêncio meditativo. O estar em mim que se amplia na festa, na roupa, na dança, na cama, no junto, no nenhum e no qualquer um.

Essa sensação de estranhamento:

“- Oi, meu nome é eu.”